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sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

CONTO - RECÉM NASCIDO

SAUDAÇÕES VIAJANTES!


Recém nascido


A grande chama vespertina se deitava sobre o horizonte como em seu ciclo natural mais um dia, e novamente Arthur sentia aquela fome percorrer-lhe as entranhas. Tem sido assim desde a noite em que havia encontrado Brigite naquela espelunca infernal que costumava freqüentar para sentir-se parte de sua sociedade fechada e seleta de adoradores da noite. Depois de ceder a cada capricho da garota que havia conhecido há miseras duas semanas, e de várias doses de vodka barata, reconheceu que aquele seria seu momento de agir, de mostrar sua habilidade como predador, seu charme de rapaz experiente nas artes da conquista. Brigite mostrara-se muito mais receptível naquela noite e como uma eximia jogadora o encorajava com toques e olhares incendiários. Quando a madrugada se encontrava em suas mais profundas horas a garota o convidou para encontrarem um local mais à-vontade com a proposta tentadora de mostrar-lhe algo que ele nunca esqueceria. No auge de seus 25 anos de vida Arthur sabia exatamente o que isso significava, e mais do que de imediato aceitou o convite.


Em uma ruela não muito longe dali, uma passagem estreita e obscura sem portas, apenas janelas no alto das grandes construções que se erguiam nas laterais e se encerrando em um beco sem saída, seus corpos ardentes de desejo se entregavam a volúpia do prazer que ameaçaram noite adentro, e seus beijos saciavam uma vontade que os consumia. Com uma voz sensual e incrivelmente dominadora, Brigite disse ao pé de seu ouvido:
- Oh Arthur, eu daria a eternidade a você se me prometesse que se entregaria aos meus desejos para todo o sempre...
Sem entender exatamente a indagação de sua amante, Arthur, entre beijos e caricias disse às palavras que mudariam para sempre o rumo de sua existência:
- Eu prometo que minhas caricias serão eternamente suas...
Se Arthur soubesse o que acabara de dizer talvez tivesse pensado um pouco mais antes de entregar-se ao desfecho que o aguardava.
Brigite o olhou fixamente com os olhos faiscando uma chama que Arthur desconhecia, como se procurassem a verdade em seu intimo, e depois de um sorriso de satisfação e excitação beijou-lhe o pescoço libidinosamente. Arthur sentiu- se em êxtase dominado por uma sensação de graça e prazer quando subitamente sentiu uma pontada aguda, dolorida como a mordida de um animal. A moça agora com o olhar compenetrado, avermelhado e luminoso havia cravado suas presas fundas na carne de Arthur que parecia perdido em todo aquele turbilhão de sensações. Ela drenava-lhe o sangue e lentamente apagava a luz de sua vida.
Arthur sentiu um torpor alevante, uma sensação de paz, apesar da dor já não sentia incomodo algum em sua recém situação. Em um sussurro prazeroso, Brigite encorajou-o levemente:
- Beba agora de mim meu filho, meu amante! Delicie-se com minha essência... E mordendo o próprio pulso despejou em sua boca gotas de seu próprio sangue avermelhado como o céu da aurora.
Arthur sentiu a dor da morte destruir-lhe o ser e arrancar cada traço de humanidade de seu corpo. Em espasmos agonizantes toda sua vida como a conhecera se encerrava ali. Estava indiscutivelmente morto.
Sem saber exatamente quantas horas decorreram desde aquele momento, Arthur despertou como se renascesse em um suspiro longo e revitalizador que o trouxe a tona todos os sentidos que até então haviam repousado em um sono de defunto.
As idéias se misturavam e embaralhavam umas nas outras alucinantemente não dando espaço para qualquer reação coerente. Estava deitando numa cama desarrumada e pequena em um quarto proporcionalmente minúsculo, com apenas uma escrivaninha ao lado do leito, uma porta rústica e uma janela que encontrava escancarada, oferecendo a visão de uma lua tão cheia e grande quanto jamais havia tido a chance de ver. Arthur mal percebeu o momento em que uma fome devastadora começara a tomar conta de todas suas vontades o deixando em um estado de frenesi incontrolável. Neste momento Brigite adentra o quarto, com um olhar fraterno e amoroso como o de uma mãe que vê o filho despertar de um longo repouso. Sua presença trazia uma inexplicável segurança a Arthur que mesmo assim permanecera ligeiramente alheio ao que estava a sua volta. Com uma voz suave ela diz olhando em seus olhos desnorteados:
- És agora minha cria, meu amante e filho da noite. Esta no topo da cadeia alimentar, entre a mais suprema das espécies. Não tenha medo do que está sentindo, logo se acostumará com sua nova condição. Esta dor que lhe faz agonizar em loucura é a fome. Fome do sangue dos humanos, mero gado que existe para nos alimentar e divertir. Agora és um predador e eu sua mestra. Irei lhe ensinar a viver neste novo mundo de escuridão que se abriu a você.
Arthur acostumou-se rápido com sua nova vida ao lado de Brigite, e tomou gosto pelo poder que agora corria em suas veias. Um predador nato, impiedoso e sagaz.
Mais um dia se esvai dando lugar ao fino véu da noite que cobre as ruas decadentes da cidade. A fome novamente toma conta de Arthur que olha entediado pela janela grande do quarto de pensão. Será mais uma noite de caçada, mas agora ele é o predador.


Fim


(Ermes Le Fou)

3 comentários:

  1. QUEM SABE, UM DIA ELE ENCONTRE KATRINA E POSSAM SER MORTALMENTE FELIZES! SE ELA ACEITAR TOMAR SEU SANGUE. O QUE NÃO ACREDITO MUITO.

    BRINCADEIRAS À PARTE, O Sr. ESTÁ SE REVELANDO CADA DIA MAIS EXPERT Sr. LÊ FOU. ESTE CONTO TEM UMA PONTA DE ROMANCE QUE TODAS A MOÇAS ESPERAM.
    "UM DIA SER TOMADA POR UM SER NOTURNO!" EMBORA NÃO TENHA CORAGEM DE ADMITIR.
    PARABENS ! ATÉ A PRÓXIMA!

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  2. Obrigado Mystyka pela analise e de fato acho que realmente é um desejo oculto nas mulheres, esta sedução pelo desconhecido e misterioso. Assim sendo, os seres noturnos tem essa característica de personificar isto tudo perfeitamente. Estarei em breve postando mais contos que escrevo. É só conferir.
    até a proxima!

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